Não é só com uma cartilha que se combate o problema do assédio moral e sexual nas agências — é, antes de tudo, com vontade política e real priorização do problema.
Parece inacreditável, mas existem líderes de agências que não percebem que o valor de uma agência está num quesito principal: pessoas em bom estado de saúde mental.
Não está em máquinas, equipamentos nem parafusos: está em seres humanos trabalhando num ambiente o menos tóxico possível.
(Claro que alguns líderes dizem que as pessoas são seu ativo mais importante — mas entre falar e agir há uma distância maior que a diferença entre a quantidade de homens e mulheres em cargos de liderança na criação, ou de brancos e negros dentro de uma agência.)
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Aqui entra a Fbiz, presidida pelo Roberto Grosman.
Ele faz o tipo low profile: não usa muito as redes sociais, não dá muitas entrevistas, não é figurinha carimbada em eventos do mercado.
Mas teve uma atitude louvável quando soube, no começo do ano, dos resultados da pesquisa: afirmou que gostaria de acreditar que não existe assédio em sua agência, mas que os números demonstravam que aquilo era impossível.
E, portanto, algo deveria ser feito para combatê-lo.
Algo sério, profundo e duradouro — ainda que mais lentamente do que ele próprio gostaria.
Além disso, com uma atitude rara nas agências: a humildade de reconhecer que não se sabe tudo, contratando profissionais especialistas externos para desenvolver um plano mais fundamentado.
Há algumas semanas, estivemos apresentando a pesquisa sobre assédio na Fbiz.
E, nesse dia, ele apresentou à agência o que já havia sido feito sobre o assunto e o que já estava em desenvolvimento.
O QUE JÁ TINHA SIDO FEITO
- Comunicado oficial e por escrito para toda a agência posicionando-se “tolerância zero” contra o assédio;
- Formação de grupo de trabalho GLA para discutir como agir;
- Contratação de suporte externo: assessoria de escritório de advocacia especializado;
- Criação de grupo de empoderamento feminino;
- Diagnóstico interno de clima organizacional + igualdade de gêneros;
- Parecer jurídico para embasar treinamento e cartilha.
O QUE JÁ ESTAVA EM DESENVOLVIMENTO
- Workshop de formação e treinamento do GLA;
- Apresentação de parecer para os funcionários;
- Cartilha Anti-Assédio;
- Grupo de Escuta;
- Plataforma de igualdade de gêneros.
Repare que não se trata de uma ação isolada.
Não se resume a um eventozinho interno nem um emailzinho geral para cumprir tabela.
É um conjunto de coisas que pressupõe a complexidade do problema, mas, mesmo assim, não se furta a combatê-lo.
Um destaque especial para o “Grupo de Escuta”: falarei mais sobre esse item num texto futuro — ele tem uma importância muito maior que aparenta.
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Já admiti num artigo anterior: esta causa é uma briga com mais frustrações que surpresas positivas em relação às agências.
São generalizadas a omissão da maioria dos líderes, a não-priorização do problema, a falta de poder dos RHs, o medo de retaliação por parte das vítimas, a falta de preparo para lidar com casos reais e o conivente abafamento dos agressores.
Mas são movimentos como o do Roberto e seu board na Fbiz — e os da Aline, da Juliana e do Pedro, que comentei em outro texto — que enchem nossos coraçõezinhos de esperança e nos fazem acreditar que tudo vale a pena.
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Por isso, quero fazer publicamente o que já fiz no privado: agradecer o Roberto Grosman pela priorização e pela não-superficialidade com que está tratando o assunto.
Aproveito para agradecer também a Renata D’Ávila, amiga e atual presidente do Grupo de Planejamento — porque sei que ela é uma pessoa-chave para que tudo isso esteja acontecendo por lá.
Que venham outros líderes com essa altíssima categoria — porque é disso que o mercado precisa.
Se eu fosse líder de uma agência e me importasse com as pessoas, marcaria urgente uma conversa com eles dois. =)
Você disse bem Ken. “Não se resume a um eventozinho interno ou um emailzinho geral para cumprir tabela”. Não conheço o Roberto Grosman mas já tem meu profundo respeito por mostrar a preocupação e principalmente por agir com seriedade no combate a esse problema tão crítico em nosso mercado. Parabéns para ele, para você e todas as pessoas e líderes que “realmente” tem se empenhado por manter esse assunto em pauta, incansavelmente.
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